
PROPOFOL|
fármaco, droga ou veneno?
Uso Recreativo

Propofol como droga de abuso
A utilização terapêutica do propofol é considerada segura, no entanto, o seu conhecido efeito hipnótico e sedativo é aliciante em estados de depressão total e desiquilíbrios, sendo por isso utilizado, também, de forma recreativa. O primeiro caso relatado de dependência de propofol foi publicado em 1992 e dizia respeito a um profissional de saúde. Desde então, o perfil do consumidores mantem-se e foram inclusivamente relatados casos de morte, não por overdose, mas por má administração da droga. Isto porque, quando administrado muito rapidamente o propofol leva a apneia, que, por sua vez, conduz a depressão do sistema respiratório. A administração repetida do fármaco pode, ainda, conduzir, a estados de pancreatite. Nos últimos dez anos a utilização da droga aumentou 5 vezes. (37)
Um estudo realizado em 542 pacientes submetidos à acção do propofol demonstrou que 40% dos pacientes em estudo descreviam sensação de prazer ao acordar da anestesia. (38) Esta reacção não acontece com todos os indivíduos nem leva à dependência do fármaco quando acontece isoladamente, mas pode estar na base do seu uso recreativo.
Caracterização da dependência
Em termos de mecanismo, a dependência do propofol é provocada por uma activação do centro de recompensa. Esta ativação é causada por aumento de dopamina extracelular no núcleo accumbens, aumento este consequência indireta da ativação dos receptores GABA-A. (39)
O uso recreativo da droga provoca, nos seus consumidores, alguns minutos de relaxamento eufórico sem tonturas contudo, o estado de dependência caracteriza-se pela sensação de desejo, perda do controlo e alterações sociais. (39). Estados de tolerância ocorrem apenas quando as administrações são mais frequentes do que 100 vezes por dia.
A privação da utilização da droga leva a estados de sensibilidade ao ruído e à luz, espasmos musculares, agitação ou tremores, tonturas, sensação de desmaio, sensação de enjoo, depressão, perda de memória, perda de apetite. Todos os sintomas desaparecem, normalmente ao fim de duas semanas, contudo o desejo permanece.
Esta dependência é normalmente tratada apenas com psicoterapia não sendo relatado o uso de nenhum fármaco específico.
Grupo de risco
O grupo de rico no uso recreativo desta droga está claramente identificado e diz respeito a profissionais de saúde com fácil acesso ao fármaco. Está ainda descrito que 82% dos casos de dependência relatados até 2011 estão associados a tendências familiares para o consumo de drogas e consumo prévio de álcool. (40)
Estudo indicam que um em cada dez anestesistas experimenta a administração recreativa de anestésicos durante a sua vida profissional. Uma vez que o grupo de risco se encontra tão bem caracterizado podem ser tomadas medidas nos centros hospitalares de forma a evitar esta utilização do propofol, sejam eles educação, monitorização (como por exemplo a quantificação de propofol e metabolitos na urina) ou mesmo restrição de acesso a este fármaco (41)
Para além do principal grupo de risco a dependência do propofol está também associada à sua repetida utilização em cirurgias e diagnósticos, principalmente em doentes crónico e famosos.
Situação em Portugal
Dados do Centro de Informação Antiveneno (CIAV) demonstram que, em Portugal, entre 2003 e 2004 no Norte do país 1,6% dos casos de intoxicação por medicamentos correspondiam a intoxicação por propofol. De uma forma geral, no total de intoxicações relatadas ao centro a maioria corresponde a intoxicação com medicamentos e dentro deste grupo os fármacos são acção no Sistema Nervoso Central são os mais usados. (42)
Referências:
37 - Sangseok L. Guilty, or not guilty?: a short story of propofol abuse Korean J Anesthesiol 2013 November 65(5): 377-378
38 - Wilson C, Canning P, Caravati EM: The abuse potential of propofol. Clin Toxicol (Phila). 2010; 48:165–170
39 - Anne R., Jean-Louis M., Maryse L . tPharmacologia and clinical evidences on the potencial for abuses and dependence of propofol: a review of the literature, Fundamental & Clinical Pharmacology 21 (2007) 459–465
40 - Bonnet, U. Scherbaum N., (2012) Craving Dominates Propofol Addiction of an Affected Physician Journal of Psychoactive Drugs, 44 (2), 186–190, 2012
41 - Earley, P. Finver (2013), P. Addiction to Propofol: A Study of 22 Treatment Cases, J Addict Med 2013;00: 1–8
42 -Ferreira, A, Borges, A., Rangel, R. Monsanto, P., Dias, M., Carvalho, M. Avaliação da intoxicações medicamentosas em Portugal, Centro de informação Antiveneno, 2008